RECORDISTA NO PAN, HUGO HOYAMA ATACA MOLEZA DA NOVA GERAÇÃO

Hugo Hoyama

Fonte: UOL
Por: Bruno Doro, Evandro César Lopes e Lello Lopes

Com 37 anos, Hugo Hoyama ainda é sinônimo de tênis de mesa no Brasil. E o atleta, que divide com o nadador Gustavo Borges o recorde de oito medalhas de ouro para o país em Jogos Pan-Americanos, ainda não vê nenhum jogador que possa substituí-lo na seleção brasileira. Para Hoyama, o problema não está na falta de talento da nova geração, e sim na pouca dedicação dos atletas nos treinamentos. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o mesa-tenista atacou a "moleza" dos novatos.

"Eles (os novatos) estão muito acomodados, é muita moleza, não tem aquele sacrifício que tinha antigamente. Eles sabem disso, mas não vêem. Na hora de treinar, na hora de se sacrificar, eles não pensam nisso. Era coisa que a gente nem pensava e ia lá a toda. Hoje o pessoal fala com a molecada e ouve ‘não, estou cansado, estou com dor no joelho’. Eu, quando tinha 20 ou 25 anos, não tinha dor de nada", disse Hoyama.

Conhecido por ser sempre político em suas declarações, seja em relação aos companheiros de equipe ou em relação à Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), Hoyama aproveita o ocaso da carreira como jogador para deixar mais contundente as suas opiniões.

"É duro eu falar porque continuo jogando. Se tivesse parado poderia falar mais. É que sou amigo do pessoal e sempre falo. Eles são garotos que escutam e respeitam, mas acho que eles precisam pensar um pouquinho mais alto. Acho que é isso que falta para eles. Eles estão acomodados com alguns títulos que já ganharam, que são importantes para eles, mas ainda não é aquilo que vai fazer com que o nome deles seja conhecido. O que falta pra eles é colocar na cabeça que precisam superar os que estão lá em cima", disparou.

Apesar de disputar poucos torneios internacionais, Hoyama ainda é o segundo melhor brasileiro do ranking mundial de tênis de mesa. Ele ocupa a 103ª colocação. O primeiro atleta do país na lista é Thiago Monteiro, radicado na França, que está em 89º lugar.

Nos últimos anos, Thiago Monteiro conseguiu alguns bons resultados, como duas medalhas no Pan de Santo Domingo-03 (ouro em dupla com Hoyama e prata no individual). Além disso, foi o único mesa-tenista do país que conseguiu ganhar uma partida na Olimpíada de Atenas-04.

Os outros atletas são apenas figurantes no circuito internacional. Cazuo Matsumoto é o terceiro brasileiro no ranking, em 180º lugar. O quarto é Gustavo Tsuboi, na 284ª colocação.

Para tentar reverter essa situação, Hoyama usa como exemplo a própria experiência. No começo da década de 90 ele era apontado como promessa do tênis de mesa nacional, mas não conseguiu superar Cláudio Kano, número um do país na época. Até que recebeu uma bronca de seu treinador, Maurício Kobayashi, e de seu pai, que o obrigou a trabalhar em uma fazenda toda manhã antes dos treinos. O resultado: venceu o ídolo na final de simples do Pan de Havana-91.

"Aí comecei a correr atrás de ser o numero um do Brasil", afirma Hoyama, que aponta a vitória em Havana como a principal de sua carreira.

O final da carreira como jogador não serve apenas para Hoyama ser mais contundente em suas declarações. O mesa-tenista também mostra maturidade em mudar de opinião.

Antigamente, Hoyama era totalmente contrário à naturalização de jogadores asiáticos, prática bastante utilizada pelos vizinhos do Brasil. Agora, até admite a possibilidade do país contar com mão-de-obra estrangeira.

"Acho que, se possível, seria legal trazer não só chineses, mas jogadores da Europa também para treinar com o pessoal aqui. Se você trouxer alguns jogadores para passar uma temporada treinando no Brasil também vai ajudar bastante. E, no caso deles se naturalizarem e continuarem aqui treinando e jogando, vai servir até de motivação para o jogador daqui treinar mais. Quem vai ganhar com isso é o tênis de mesa brasileiro", analisou.

Sobre o seu próprio futuro, Hoyama ainda não decidiu o que fazer. Certeza mesmo é a disputa do Pan em 2007 e da Olimpíada em 2008, torneio no qual deve encerrar sua participação pela seleção brasileira.

"O meu principal objetivo é o Pan de 2007, principalmente por causa desse recorde. É lógico que vai ter uma pressão, a responsabilidade vai aumentar, mas hoje estou me esforçando mais que uns cinco anos atrás. Isso vai me ajudar em mais um ou dois anos, o que também inclui a Olimpíada de Pequim que vai ser um evento maravilhoso em relação ao tênis de mesa porque o tênis de mesa na China é o primeiro esporte. Não vou querer perder essa outra oportunidade", disse.

Para isso, Hoyama mudou a rotina de treinamento. "Hoje estou treinando mais focado na qualidade do que na quantidade. Mesmo porque já estou com 37 anos. Já são 30 anos de carreira, 20 de seleção brasileira. Sei que preciso dosar, sinto cansaço mais rápido. Tenho treinado em média quatro horas por dia, quando antigamente treinava coisa de oito horas por dia", revela.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *