PAN 2003 – PATRIOTA, PERO NO MUCHO

Por Vicente Toledo Jr.

Mudar de nacionalidade é um direito de qualquer pessoa, o problema é oportunismo mercenário de alguns às vésperas de competições internacionais.

Cenas da última quarta-feira em Santo Domingo. O mesa-tenista “dominicano” Lin Ju sobe ao pódio para ouvir o hino do país anfitrião do Pan depois de conquistar a medalha de ouro no torneio individual. Poucos minutos antes, a também “dominicana” Xue Wu deixa a quadra chorando após ficar com a prata no feminino.

O que deveria ser um dos momentos mais importantes da história do esporte na República Dominicana, no entanto, não passou de uma patética exibição de cinismo. “Eles demonstraram fervor pátrio e se integraram orgulhosamente à sociedade dominicana”, afirmou o presidente Hipólito Mejía após a cerimônia de premiação.

Os atletas fizeram seu papel, venceram os jogos, empunharam a bandeira e vibraram com a torcida, mas o mandatário dominicano dizer que os chineses contratados para defender o país no Pan mostraram patriotismo é o cúmulo do exagero.

Ser patriota significa amar a pátria, seja aquela em que o sujeito nasceu ou a que escolheu adotar. Não é o caso dos mesa-tenistas chineses. Lin Ju jamais tinha posto os pés na República Dominicana antes do Pan, não fala uma palavra em espanhol e, com toda a certeza, não entende nada do que diz o hino nacional dominicano.

Quem viu Xue Wu deixar a quadra chorando depois de perder a final para a “norte-americana” Jun Gao Chang, poderia imaginar que derramava um pranto de tristeza. Ela com certeza não estava feliz pela derrota, mas o motivo do choro era outro: cercada por dezenas de jornalistas dominicanos, a chinesa não conseguia entender as perguntas a ela dirigidas, quanto menos respondê-las.

A própria Jun Gao Chang se naturalizou recentemente em troca de uma boa quantia em dinheiro e de um visto de moradia nos EUA. Sabendo disso, fica difícil acreditar na espontaneidade de seus gritos “iu, és, ei, iu, és, ei” empunhando a bandeira norte-americana.

O Brasil também trouxe para Santo Domingo atletas naturalizados. Não é novidade para ninguém que Fernando Meligeni, medalha de ouro no tênis, é argentino. Apesar de ser natural de outro país, entretanto, sempre demonstrou ser muito mais brasileiro do que muita gente nascida no Brasil.

Medalha de prata no pentatlo moderno, a norte-americana naturalizada brasileira Samantha Harvey defendia os EUA até Winnipeg-1999. Depois disso, porém, casou-se com um brasileiro e escolheu defender o Brasil dali em diante.

Escolher sua própria nacionalidade é um direito de qualquer ser humano, e uma opção particular de cada um. A naturalização, na maioria das vezes, é uma oportunidade única para essas pessoas garantirem um futuro inimaginável em seus países de origem. O inaceitável é oportunismo barato de véspera, que desrespeita o esforço dos demais atletas e joga no lixo todo o ideal olímpico.

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