Hugo Hoyama: “acho que não é último Pan”

Confira a entrevista de Hugo Hoyama publicada no site da Placar:

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No mesmo dia em que foi eliminado dos Jogos Pan-americanos de Guadalajara, Hugo Hoyama perdeu o título de maior medalhista de ouro do Brasil no campeonato, já que ganhou a companhia do nadador Thiago Pereira. Antes de cair diante do cubano Andy Pereira nas oitavas de final, em entrevista exclusiva à GE.net, o mesa-tenista manifestou o desejo de disputar uma vaga nas Olimpíadas de Londres-2012, lembrou o amigo Cláudio Kano, falecido em 1996, e projetou uma nova participação no Pan, talvez não como jogador.

“Acho que não vai ser mesmo o último Pan-americano, pode ser que eu volte como coordenador ou até como treinador. Vou ver, mas quero de alguma maneira continuar ajudando o tênis de mesa brasileiro depois de aposentar a raquete”, afirmou Hoyama, dono de 10 medalhas de ouro pan-americanas, uma delas conquistada no torneio por equipes de Guadalajara. Para buscar seus objetivos, ele usa a memória de Cláudio Kano como motivação.

Os dois mesa-tenistas iniciaram a carreira juntos em São Bernardo do Campo e viraram dois “irmãos”, como diz Hoyama. De suas 10 medalhas de ouro pan-americanas, a metade foi conquistada ao lado de Kano nos Jogos de Indianápolis-1987, Havana-1991 e Mar Del Plata-1995. Na edição cubana do campeonato, ele ainda venceu o amigo na decisão individual no que classifica como um dos maiores triunfos da longa carreira.

Na véspera do embarque para os Jogos Olímpicos de Atlanta-1996, Kano sofreu um acidente fatal de motocicleta. Ao mesmo tempo, se converteu em motivação para Hugo Hoyama. Embalado pela lembrança do amigo-irmão, o mesa-tenista de 42 anos sonha disputar uma Olimpíada pela sexta vez na carreira ao mesmo tempo em que pensa nos projetos do Instituto que leva o seu nome.

Quais são os seus planos para 2012. Pretende disputar as Olimpíadas de Londres?

Meu plano é disputar a vaga para Londres e participar da minha sexta Olimpíada. Depois disso, eu vou ver. Abrimos o Instituto Hugo Hoyama nesse ano. Ainda não estamos trabalhando, mas já temos um projeto montado para colocar o tênis de mesa nas escolas públicas e privadas. Quero fazer contato tanto com os secretários de esporte quanto com os de educação. Precisa trabalhar junto. Vamos ver. Se começar a dar certo, isso vai tomar um pouco do meu tempo para treinar e ficaria difícil para manter o alto nível. Se depender da motivação, vou continuar por mais algum tempo, mas tem algumas outras coisas envolvidas.

Depois de encerrar a carreira como jogador, você gostaria de continuar ligado à seleção brasileira, talvez na comissão técnica?
Eu quero ajudar de alguma maneira, sim. Não sei se como técnico ou coordenador. Isso vai depender do meu Instituto e do meu tempo disponível. Uma coisa que não posso deixar de fazer é passar a minha experiência para os mais jovens que estão aparecendo.

Depois do Pan do Rio-2007, você chegou a dizer que seria o seu último, mas está aqui de novo. Aparentemente, a despedida do Pan também não vai ser aqui no México…
Acho que não vai ser mesmo o último, pode ser que eu volte como coordenador ou até como treinador. Vou ver, mas quero de alguma maneira continuar ajudando o tênis de mesa brasileiro depois de aposentar a raquete.

O seu primeiro Pan-americano foi em Indianápolis-1987, mas a vitória mais expressiva veio em Havana-1991, na final contra o Cláudio Kano…
Foi uma das melhores mesmo. Contra o Cláudio, foi a primeira vitória mais importante que eu tive na carreira. Em 1991, o Cláudio era o ícone do tênis de mesa brasileiro e eu queria ultrapassá-lo. A partir dali, comecei a conseguir vitórias importantes. Acho que estava faltando aquele passinho a mais e a vitória sobre o Cláudio foi esse passo para que eu pudesse atingir meus outros objetivos. Até agora sou o único brasileiro que conseguiu o título individual no tênis de mesa em Pans.

Como era a relação que você tinha com o Cláudio?
Nós éramos muito próximos. Eu sempre treinei em São Bernardo. Com uns 13 anos, o Cláudio chegou a convite do nosso técnico, o Maurício Kobayashi. Na época, tinha um programa de intercâmbio com o Japão. Para ter chance de viajar, ele precisava treinar dois anos em São Bernardo. A partir daí, ficamos amigos. Com uns 16, 17 anos, era como se fossemos irmãos.

A convivência não se restringia aos treinamentos…
A gente saia muito junto e aprendi bastante com ele. Não posso deixar de falar isso. Infelizmente, o Cláudio nos deixou em 1996, mas muita gente ainda lembra dele. Até me confundem com ele, já que somos japoneses e da mesma geração. As pessoas vêm e falam pra mim: “oi, Cláudio, tudo bem?” Ele deixou muita coisa boa para o tênis de mesa e foi um cara sensacional.

Você e o Cláudio foram campeões juntos em Indianápolis-1987, Havana-1991 e Mar Del Plata-1995. Qual é a sua maior recordação ao lado dele?

Foi realmente o Pan de 1987, quando o Cláudio era o principal jogador do Brasil. Ele carregou a equipe com toda a sua liderança. Em Indianápolis, eu comecei a vê-lo não apenas como amigo, mas também como ídolo. Um cara que ajudou a equipe, nos levou para cima e nos fez ganhar aquele Pan. Ao lado do Cláudio, a conquista mais importante foi o torneio por equipes de 1987.

O Cláudio faleceu pouco antes dos Jogos Olímpicos de Atlanta-1996. Mesmo assim, você chegou no nono lugar, seu melhor resultado no torneio, com direito a vitória sobre o sueco Jorgen Persson, campeão do mundo. Como conseguiu equilíbrio emocional para jogar bem depois da morte dele?
Foi difícil. Ele faleceu três semanas antes das Olimpíadas e, no dia em que sofreu o acidente, estava indo para a casa para pegar as malas e embarcar para fazer um treino específico nos Estados Unidos. Foi duro, fiquei até sem vontade de jogar duplas, porque ele seria meu parceiro. Estávamos bem preparados e acho que seriam os últimos Jogos Olímpicos do Cláudio. Ele já estava pensando em outros projetos dentro do tênis de mesa e iria se aposentar. Eu coloquei na minha cabeça, desde aquele momento, que tinha que batalhar no tênis de mesa por mim e por ele. É isso que faço até hoje. Como ele sabe que estou batalhando por nós, vai me ajudar, de alguma maneira. Ele foi um cara simpático, todo mundo gostava dele. Não tenho nada de negativo a falar do Cláudio.

Depois de 15 anos, a lembrança dele ainda parece forte para você…
Sim, tem coisas que a gente fazia desde aquela época junto com os amigos e continuamos fazendo. Ele nos ensinou a jogar um jogo japonês, por exemplo, que jogamos até hoje. Se ele estivesse aqui, estaríamos sempre nos encontrando e jogando esse joguinho. Claro que ele faz muita falta, mas sabe que estou batalhando por ele aqui embaixo.

Você recentemente desfilou como porta-bandeira do Brasil aqui em Guadalajara. Deve ter passado muita coisa pela sua cabeça. Chegou a lembrar do Cláudio?
Ah, sim. Teve lembrança de muita gente, de todo mundo que me ajudou a chegar até aqui. Minha família toda, o próprio Cláudio e todos que estão aqui. Se não fosse pelos que estão aqui, não teria ganhado as medalhas em 2003 e 2007. O desfile passou tão rápido… Mas foi muito legal, uma experiência única e que vai ficar guardada na minha memória pra sempre.

Você ainda mantém contato com alguém da família do Cláudio?
De vez em quando, encontro com os pais dele. Na cultura japonesa, quando você completa 41 anos os seus amigos fazem uma festa para você. Os pais do Cláudio foram no meu aniversário e minha mãe é muito amiga da mãe dele. É claro que nos afastamos um pouco, mas são pessoas muito queridas.

Você está treinando a chinesa Gui Lin. Ela já conseguiu se naturalizar?

Ela ainda está com processo de naturalização e vai demorar um pouquinho mesmo. A gente esperava que fosse mais rápido, mas não deu tempo. Ela não veio agora para esse Pan, mas está só com 18 anos e tem chance de ir para as Olimpíadas de Londres. Acho que o principal para ela vai ser o Pan de Toronto-2015 e as Olimpíadas do Rio-2016.

Enquanto você está na parte final da carreira, tem um xará promissor começando, o Hugo Calderono, 15 anos, que alcançou o sexto lugar do ranking mundial infantil...
Ele é um menino que está subindo bem. Ainda falta muita experiência, é claro. Tem outras coisas, além da mesa. O atleta não tem que ser apenas um bom jogador. Tem que aprender muitas coisas fora da mesa. Foi assim comigo. É um jogador que é novo, então ele vai aprender. Não é fácil, porque ele saiu do Rio de Janeiro para morar com o avô em São Caetano e treinar com o pessoal. A gente tem que ficar em cima para que ele não saia do caminho certo. Na parte técnica, está indo muito bem, mas tem que aprender muita coisa para se tornar um jogador.

O nome dele ajuda, não é mesmo?
Quando eu comecei a jogar, era um dos únicos Hugos. Agora, tem uns cinco ou seis…

Será que é influencia sua?
Não, não [risos]… Ele tem futuro, sim. Espero que possa batalhar e ganhar mais do que eu e o Cláudio ganhamos.

A iniciativa de mudar de cidade para treinar é um sinal de comprometimento importante, não acha?
Daqui a um tempo, o ideal seria ele já ficar sozinho. É claro que é difícil ficar sozinho com 14, 15 anos. Mas eu mesmo, com 16 anos, passei um ano no Japão. Morei do outro lado do mundo e aprendi muito não apenas na parte técnica, mas também na de sobrevivência, digamos assim. Aprendi muito e isso me ajudou a estar aqui com 42 anos.

Você recentemente ganhou mais uma medalha de ouro no Pan. Há atletas que guardam as medalhas em cofres de bancos. O que você faz com as suas?
Como eu moro sozinho, minhas medalhas pan-americanas ficam na casa da minha mãe, em cima da lareira da sala. Todo mundo que entra em casa vê as medalhas, é a primeira coisa que aparece para os visitantes. As pessoas falam para guardar, porque vai que acontece alguma coisa… Mas se tiver que acontecer, acontece. Não é que eu queira ficar mostrando para todo mundo, mas é legal que todo mundo possa ver e dividir essa alegria comigo.

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