Cláudio Massad, cariosamente conhecido como Cláudião, concedeu à Rede Bom Dia uma belíssima entrevista sobre a sua vida e conta que como a morte precoce do seu irmão o motivou para se tornar um jogador profissional de tênis de mesa.
Por: Cristina Camargo – Agência BOM DIA
Há dois anos o atleta Claudio Massad de Moura, 25 anos, ouviu um conselho precioso do irmão mais velho, que estava internado no hospital com pneumonia.
Paulo, fã de rock e lutador de taekondo, disse que sairia daquela cama para fazer o que gostava e ser feliz.
O irmão não resistiu à doença e morreu aos 38 anos. Claudio mudou o rumo de sua vida, sempre com a sensação de que o mais velho está a seu lado.
O atleta pratica tênis de mesa desde a infância e sempre sonhou em virar profissional da educação física.
Antes da partida do irmão, no entanto, cedeu às pressões sociais e fez o curso de direito. Gostou da faculdade e do convívio com os amigos, mas percebeu que o setor jurídico não era para ele. Engavetou o diploma e resolveu correr atrás do que realmente o motiva.
Está no segundo ano do curso de educação física e é atleta profissional, com dedicação exclusiva ao esporte. Isso significa treinar diariamente, manter o condicionamento físico e contar com acompanhamento nutricional e psicológico.
“Hoje posso falar: sou feliz. Tirando a morte do meu irmão, minha vida é de felicidade”, conta.
O mesatenista enxerga a si mesmo como motivação. “Muita gente coloca a motivação nos outros”.
A morte de Paulo não foi o único desafio na vida de Claudio. Ele já foi obeso mórbido e chegou perto dos 200 quilos – pesava 185 quilos aos 17 anos.
Por meio de tratamento médico e sem cirurgia, chegou aos 103 quilos, ficou muito magro para o seu 1,87 metro e porte atlético e agora está com 116 quilos e 16% de gordura no corpo.
Tem tendência genética para engordar e, como diz, “cabeça de gordo”.
Por isso, diariamente Claudio precisa controlar a vontade de comer a mais do que precisa. Na infância e adolescência, tinha hábitos errados nas refeições. Aos 8 anos, já pesava mais de 80 quilos.
“Tenho que me cuidar para sempre”, afirma. “Só a gente pode fazer algo pela gente mesmo”.
Para ele, não adianta o obeso procurar ajuda se ele mesmo não quer mudar.
Preparo
A rotina do atleta inclui exercícios, fisioterapia e treinamentos no Clube Nipo e em Jaú, cidade que representa no momento.
Já conquistou oito títulos no circuito brasileiro de tênis de mesa, foi vice-campeão brasileiro individual e terceiro na disputa por equipe.
No momento, prepara-se para a Copa Brasil, realizada em João Pessoa, na Paraíba, entre os dias 16 e 19.
Conheceu o país inteiro por causa do esporte. Planeja passar temporadas fora, no México ou no Peru, para aperfeiçoar a técnica.
Tem vários planos para depois da formatura na faculdade. Quer dar aulas na universidade, trabalhar com o controle da obesidade e continuar no tênis de mesa.
Quando pensa no irmão, imagina Paulo bem perto, satisfeito com a transformação do caçula.
“Ele está comigo em todos os lugares”, acredita.
Treinador e guru coloca atleta no eixo
Como ex-obeso mórbido, Claudio tem autoridade para falar que o exagero na hora de comer muitas vezes funciona como uma compensação às frustrações. E, para ele, elas são causadas pelo lema atual: trabalhar para ganhar dinheiro, não para conquistar a realização profissional.
Ele resolveu seguir o caminho contrário.
“Decidi fazer o que gosto. O dinheiro vem depois”, explica.
O atleta conta com o apoio da família, principalmente da mãe, Claudete Salma, e da tia, Betina.
Lembra que em qualquer carreira, mesmo nas mais tradicionais, é preciso investir na fase inicial para depois obter resultados.
Quando foi cuidar da própria saúde, Claudio precisou mudar toda a alimentação e também o jeito de encarar a comida. “O problema é psicológico, o que nos faz depositar toda ansiedade na alimentação”.
Por isso, opina, mesmo com a cirurgia bariátrica existem pessoas que não conseguem controlar a tentação pelo exagero.
No caso dele, além da ansiedade e dos hábitos alimentares errados, uma cirurgia contribuiu para a obesidade.
Em 2002 ele fez uma operação na perna e precisou ficar dois meses engessado. Passou Natal e Ano Novo assim e engordou muito.
O processo de emagrecimento, sem cirurgia, combina com o espírito de atleta. “Foi na raça. Todo dia é uma conquista”.
Depois, tudo melhorou. No esporte, Claudio ganhou agilidade. Na vida pessoal, conquistou a autoestima. Hoje se aceita do jeito que é – e gosta de falar sobre isso.
O esportista tem preparador físico, Matheus Bertolaccini, e dois treinadores, Edson Nakasato (Bauru) e Daniela Basse (Jaú).
Edson, além de treinador, é também guru. “Ele me coloca no eixo”.
Com o treinador, de origem oriental, ele aprende a tomar cuidado com o ego, treinar com todos, independente de ser um esportista mais fraco ou mais forte, e a jogar com o adversário – e não contra.
Claudio aprendeu a ser campeão na vida, não apenas no tênis de mesa.