Olá mesatenistas, técnicos e simpatizantes do tênis de mesa que frequentam o temp.mesatenista.net. Após a inauguração da coluna Tempo Técnico recebi mensagens de mesatenistas que se prontificaram a ajudar na tradução da coluna para inglês, além de ótimas sugestões para as próximas semanas. É ótimo saber que teremos a participação de pessoas de vários estados do Brasil.
Como falado na coluna inaugural, hoje optei por explicar um pouco sobre o meu projeto de mestrado que venho executando sob orientação do Prof. Dr. Alessandro Zagatto. É um projeto dividido em alguns estudos: a) análise de vídeos de mesatenistas de nível olímpico/mundial; b) avaliação da aptidão aeróbia/anaeróbia de mesatenistas utilizando protocolos convencionais e específicos; c) análise das contribuições energéticas dos metabolismos aeróbio/anaeróbio no jogo de tênis de mesa, sendo essa última análise o foco para a discussão na coluna hoje.
Basicamente, essa análise permitirá estimar em valores percentuais qual é a contribuição energética de cada metabolismo no jogo de tênis de mesa. Em termos mais claros, significa que daremos um passo para compreender melhor como o corpo produz energia para jogar tênis de mesa, o que trará aos técnicos e preparadores físicos alguns benefícios que serão mencionados posteriormente. Para realizar esse estudo, nós submetemos alguns mesatenistas entre 18 e 30 anos do sexo masculino a jogos de tênis de mesa (melhor de 7 sets) utilizando um analisador de gases portátil (figura 1), equipamento que permitiu aos atletas jogar livremente, sem obstruir movimentos. Esse equipamento permite estimar percentualmente a contribuição energética de dois metabolismos (aeróbio e anaeróbio alático) utilizando o consumo de oxigênio medido durante o jogo e após o jogo. Além disso, também foram feitas coletas de sangue do lóbulo da orelha (figura 2) para calcular as contribuições do metabolismo anaeróbio lático a partir da mensuração do lactato sanguíneo. Como essas coletas de dados foram recentes (junho e julho de 2013), ainda não foi possível calcular a contribuição energética individual dos metabolismos nos jogos investigados.
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Figura 1. Mesatenista Claudio Massad utilizando o analisador de gases portátil enquanto joga uma partida contra o mesatenista Adilson Toledo (crédito da foto para o Marcelo Shishito)
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Figura 2. Coleta de sangue do lóbulo da orelha do mesatenista Jeferson Bento. |
Entretanto, para compreender mais sobre esse tema antes que nós publiquemos os nossos resultados por meio de artigos científicos, vale a pena conhecer o trabalho publicado pelos pesquisadores brasileiros Zagatto, Morel e Gobatto em 2010 no Journal of Strength and Conditioning Research, intitulado “Physiological Responses and Characteristics of Table Tennis Matches Determined in Official Tournaments”, no qual os autores investigaram as respostas fisiológicas (lactato e frequência cardíaca) e a estrutura temporal (duração média do rally, relação entre esforço e pausa e outras variáveis) em jogos oficiais de tênis de mesa. A partir dos resultados, os autores sugeriram que o sistema anaeróbio alático (ATP-CP) foi o principal metabolismo na produção de energia somente nos momentos de esforço (pontos), enquanto o sistema aeróbio auxiliou na recuperação dos atletas nas pausas realizadas entre pontos e sets, sendo responsável pela maior contribuição energética ao considerar o tempo total das partidas. A diferença do projeto que estamos executando atualmente para o estudo desses autores baseia-se na determinação mais precisa (em valores percentuais e também em outras unidades de medida) da contribuição energética de cada metabolismo, que será possível em virtude da mensuração do consumo de oxigênio durante os jogos de tênis de mesa, além da mensuração do lactato.
Também vale a pena mencionar que alguns estudos foram realizados para investigar as características bioenergéticas/fisiológicas em outros esportes com raquete, como no squash (estudo que teve como voluntários o o nº1 do mundo e campeão mundial, além de outros dois atletas no top50), tênis de quadra e badminton (estudo que avaliou 11 jogadores com experiência internacional). Também existem estudos que investigaram aspectos bioenergéticos no remo, karatê (atletas de nível internacional) e escalada indoor. A partir desses estudos percebe-se que a investigação de características bioenergéticas é um tema presente no esporte de alto rendimento, de modo que atletas de altíssimo nível foram voluntários em pesquisas que certamente contribuíram muito para o desenvolvimento dessas modalidades no mundo, beneficiando diretamente os atletas que foram voluntários e também técnicos do mundo inteiro que tomaram conhecimento dessas pesquisas. Logo, quais são os principais motivos para investigar a contribuição dos metabolismos energéticos no tênis de mesa?
Inicialmente, a carência de estudos nessa área é um dos pontos importantes, pois não encontramos trabalhos científicos que tenham relatado a contribuição individual de cada metabolismo no jogo de tênis de mesa.
Em segundo lugar, os técnicos e preparadores físicos que estão familiarizados com as características bioenergéticas de um determinado esporte conseguem elaborar treinamentos técnicos e físicos mais eficazes. Existem esportes nos quais o fator bioenergético é determinante para o desempenho, de modo que grande parte das sessões de treinamento pertencentes a um planejamento anual é elaborada respeitando as características energéticas da modalidade. No caso do tênis de mesa, o desempenho é influenciado por muitos fatores (técnicos, táticos, físicos, psicológicos, etc.) e não somente pelo aspecto bioenergético. Contudo, sabemos que em muitos casos, a prescrição do treinamento no tênis de mesa ainda é feita empiricamente, com base somente na experiência dos técnicos e ex-atletas. Por esse motivo, a caracterização bioenergética do nosso esporte dará maior suporte aos técnicos e preparadores físicos na prescrição das sessões de treinamento técnico/físico que objetivam reproduzir o jogo de tênis de mesa com mais confiabilidade, pois submeter o mesatenista a treinamentos que se aproximem com exatidão das demandas fisiológicas da competição é uma estratégia que pode trazer muitos benefícios para o desempenho.
Por fim, para complementar o tema de hoje lanço alguns questionamentos aos leitores para debatermos nos próximos dias no espaço abaixo para comentários. Em que época do ano devem ser realizadas as sessões de treinamento que objetivam simular as condições de um jogo oficial? Quais são os fatores que o treinador pode manipular para tornar a sessão de treinamento parecida com um jogo oficial? Como tem sido planejada a preparação física dos mesatenistas no seu clube ao longo do ano? Pelo que tenho acompanhado, acredito que a maioria dos técnicos realiza essas sessões similares aos torneios à medida que os campeonatos mais importantes se aproximam e de fato concordo com essa estratégia. Contudo, será que até as demandas fisiológicas vivenciadas em um campeonato real estão sendo reproduzidas nas sessões de treinamento que visam simular o jogo oficial?
Para finalizar a coluna de hoje, se algum técnico possui atletas do sexo masculino entre 18 e 30 anos que estejam em atividade e que estejam nos ratings A, B ou C da CBTM, ou que possua nível similar a outros mesatenistas desses ratings e deseja que eles participem como voluntários nesse projeto de pesquisa entre em contato o quanto antes ([email protected]).
Na próxima coluna abordarei sobre a análise temporal do jogo de tênis de mesa (relação entre esforço e pausa e outras variáveis) e como acredito que esses dados podem ser utilizados na prescrição de treinamentos específicos para o tênis de mesa.
Até a próxima!