Josemberg Silva, no alto do pódio
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Poucas vezes nesses anos de Tênis de Mesa vimos um jogador chegar tão desacreditado (por aqueles que não o conheciam) a uma competição e lutando contra todas as adversidades impostas pela vida e adversários terminar como campeão. Estamos nos referindo a Josemberg Silva (Estrela do Mar/PB), um catador de lixo, que conquistou no último domingo o título de campeão brasileiro na categoria Veterano 40/49. Além do seu nome ser complicado, pior é tentar definir seu estilo de jogo e principalmente sua empunhadura. Berg, como é conhecido, empunha a raquete de uma forma nada convencional: como um classista, mas sem o dedo indicador nas suas costas. Segurando a raquete dessa forma ele joga apenas com seu “backhand” (ou algo parecido com um…), sempre empurrando a bola, como se fosse um choto de caneteiro, numa postura quase sempre defensiva. O forehand muito raramente é utilizado, servindo-lhe basicamente apenas para sacar.
Sua raquete merece um parágrafo à parte. Ela foi doada por José Teixeira (Estrela do Mar/PB), que é a pessoa responsável pela ida de Berg ao Recife, já que ele não teria condições financeiras de bancar as despesas para participar do evento. A raquete é um desses modelos para iniciantes, já vendido com as borrachas coladas. Por sinal as borrachas não sabem o que é atrito há muito tempo, sendo tão lisas quanto uma pedra de gelo de tão desgastadas.
Gastamos dois parágrafos apenas para (tentar) definir sua empunhadura e descrever sua raquete e estilo de jogo. Precisaríamos de muitas páginas para contar a estória desse peculiar mesa-tenista, que neste final de semana deu uma grande lição, talvez não de Tênis de Mesa, mas sim de luta, a todos os presentes ao ginásio do Clube Português do Recife.
Ser campeão brasileiro com teóricas limitações técnicas e com um material tão desgastado e inadequado, para padrões convencionais, já seria motivo suficiente para nos espantarmos. Mas sua estória é ainda mais impressionante do que imaginávamos. Ficamos surpresos e emocionados quando soubemos que Josemberg Silva é uma pessoa carente, que tira seu sustento como catador de lixo na cidade de João Pessoa.
Há aproximadamente dois anos Berg soube que se jogava Tênis de Mesa na “Vila Olímpica Ronaldo Marinho” (antigo Dede) e resolveu aparecer por lá. Desde então, Berg pôde se aperfeiçoar por ter a chance de jogar outros atletas.
Outro belo ponto a ser salientado é que Josemberg Silva mantêm no galpão onde os catadores guardam o material coletado uma mesa (na verdade uma tábua), onde ele e outros catadores jogam Tênis de Mesa.
Que não se diga que o título foi imerecido pelo baixo nível técnico do evento. Por duas vezes, uma na fase de classificação e outra na final, Josemberg Silva derrotou o grande favorito ao título da competição, o pernambucano Chen Chuan (Unicap/PE), atual bicampeão estadual e sem dúvidas um dos melhores jogadores de sua categoria (Veterano 40-49) no Brasil.
Houve quem dissesse que o título era uma vergonha para o Tênis de Mesa. Vergonha deveria ter quem proferiu estas palavras, pois o esporte, assim como a arte, não é feito apenas de perfeição técnica.
Josemberg Silva pode não ter um belo estilo de jogo, mas o seu exemplo é um dos mais encantadores que pudemos conhecer. Seu título é memorável, porém o que será mesmo quase impossível esquecer é a lição que ele nos deu.