Por: Antoine Morel
Fonte: UOL
O confronto entre Brasil e Canadá pela terceira força no quadro de medalhas do Pan-Americano tem um exemplo que já esteve dois dos lados. Ex-técnico da seleção brasilera de tênis de mesa, Marles Martins é o atual treinador dos canadenses e estará no Rio em julho para o Pan. Depois de dois anos e um Pan (Santo Domingo-2003) à frente do posto brasileiro, Martins decidiu procurar outros rumos e conseguiu uma vaga na Federação Internacional da modalidade. Em pouco tempo, soube da oferta de emprego no Canadá e decidiu enfrentar a longa seletiva. “Em 2005, eu pedi demissão da seleção (brasileira). Eu já estava trabalhando lá dois anos. Resolvi dar um tempo. O convite para concorrer para a vaga no Canadá apareceu quando eu estava na Federação Internacional. Junto ao meu, soube que havia 200 currículos. Desses, ficaram 22 e depois sete”, diz o treinador.
Com o trabalho de um ano, Martins consegue analisar o potencial de sua equipe. “O pessoal vem desenvolvendo um bom trabalho aqui. Existe a vocação no tênis de mesa aqui. É bem possível que tenhamos bons resultados nos próximos jogos. Não é tão fácil dizer que teremos medalha. A equipe é jovem, mas podemos esbarrar na falta de experiência”, reconhe.
Desde o início da disputa do esporte no Pan, a partir da edição de 1983, o tênis de mesa é um reflexo da briga de brasileiros e canadenses. Ao todo são 24 medalhas para o país da América do Norte e 20 para o Brasil. A diferença são os ouros. Aí a turma de Hugo Hoyama, que já teve Marles como técnico, fica na frente. São dez primeiros lugares brasileiros contra seis do Canadá.
CANADENSES SE ENCANTAM COM PAN
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“Tem todo aquele encanto do Pan ser no Rio de Janeiro. Os relatórios sobre a organização estão sendo positivos”, conta Marles Martins sobre as impressões do Comitê Olímpico do Canadá dos preparativos dos Jogos no Brasil. Alheio aos problemas de organização e infra-estrutura, o treinador diz que os comentários são sempre positivos. “O que está se falando é bem positivo. A gente está tendo bastante retorno do comitê olímpico. Está bem convicto vai ser bom. Vai ser o melhor pan da história”, afirma. Segundo o técnico, os seus comandados estão bastante empolgados em participar do Pan. “Para eles, o Pan-Americano é o evento top das américas. Os Jogos vão ser um ensaio de como vai ser a classificação das Olimpíadas”, completa.
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Apesar do bom retrospecto, atualmente, o treinador brasileiro vê dificuldades em incentivar seus novos comandados. “Tenho jogadores, digamos profissionais, que eles trabalham durante o dia e treinam durante à noite. Um dos melhores trabalha numa uma empresa grande aqui. Um outro é professor da universidade, professor de engenharia elétrica. Geralmente, os atletas não investem muito na carreira esportiva porque não tem retorno financeiro”, conta ele.
Em 2003, em Santo Domingo, o Canadá ficou sem nenhuma medalha. Para ter chances de medalha no Rio, ele aposta nos descendentes de chineses no masculino e no feminino. Apesar de não ter confirmado a seleção que virá ao Brasil, o treinador terá pelo menos dois ou três descendentes. Alguns deles, como Wilson Zhang Peng e Judy Long, terão até o dia 15 de junho para conseguirem o passaporte canadense.
Apesar das dificuldades em achar um atleta “full time”, Marles Martins já percebe os benefícios de um esporte organizado como acontece no Canadá: “Meu contrato com o Canadá é até 2012. O Pan não foi a principal razão para eu ser contratado. O que é muito positivo. Senão eu teria muito pouco tempo para fazer um bom trabalho. É um país em que as coisas funcionam. Uma das coisas que mudam, em relação ao Brasil, é a parte orçamentária. Aqui existe um orçamento, o que ajuda”.
Hugo Hoyama, o maior ganhador do tênis de mesa no Pan, diz não acreditar que o time do técnico possa fazer frente aos brasileiros no masculino. “Eu acredito que os favoritos são Brasil, Argentina e EUA. Eles têm três jogadores de nível médio. No feminino, tem uma jogadora forte que é da China”, analisa.
Ainda assim, o mesa-tenista mostra preocupação com o fato de Martins conhecer a equipe: “No tênis de mesa, quando você conhece o jogo do seu adversário é mais fácil. Mas acho que ele vai ter que trabalhar muito para ter grandes chances. Tem que tomar cuidado, é lógico. Se a gente conseguir jogar bem, acho que o Brasil tem mais chances”.