Hugo Hoyama, 3º no individual e ouro em duplas
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Um campeão jamais fica satisfeito com menos do que o lugar mais alto do pódio. Quando a vitória escapa de suas mãos, nem mesmo o triunfo anterior e a consciência do dever cumprido conseguem consolá-lo.
Bicampeão individual (1991 e 1995), tricampeão de duplas (1991, 1995 e 2003) e tricampeão por equipes (1987, 1991 e 1995), o mesa-tenista Hugo Hoyama viveu em Santo Domingo a alegria de voltar a ser campeão das Américas após oito anos, e também a tristeza da derrota mais doída de sua carreira.
Recordista brasileiro de medalhas de ouro em Jogos Pan-Americanos ao lado do nadador Gustavo Borges (oito), Hoyama conversou com o UOL Esporte logo após perder a semifinal do torneio individual para o chinês naturalizado dominicano Lin Ju.
Que avaliação você faz de seu desempenho em Santo Domingo? Um ouro e um bronze ficaram de bom tamanho?
Não, eu não fiquei satisfeito. Vim aqui com o objetivo de ganhar duas medalhas de ouro. Infelizmente não consegui, mas levei uma de ouro (nas duplas, ao lado de Thiago Monteiro) e uma de bronze (individual), o que também não deixa de ser um resultado excelente.
Nos cinco Pans em que esteve participando, qual foi o seu momento mais marcante? E o mais triste?
O mais marcante foi quando conquistei a minha primeira medalha de ouro individual, em Havana-1991. Guardo essa vitória com mais carinho que as outras porque ganhei do Cláudio Kano na final e, a partir daí, me tornei o número um do Brasil. O momento mais triste da minha carreira foi hoje (13 de agosto). Perder do jeito que eu perdi para um cara que apareceu de repente e nem dominicano é. Mas essas coisas acontecem no esporte, é isso que dá a gente querer ser bonzinho.
Qual a situação mais inusitada que você viveu em todos esses anos participando dos Jogos Pan-Americanos?
Foi nesse mesmo Pan de Havana, logo depois de ganhar a medalha de ouro em cima do Cláudio. O jogo acabou por volta de 22h30. Entrei na sala do antidoping às 23h, mas só consegui sair de lá às 4h da manhã. A gente sempre vai ao banheiro antes do jogo, então não estava com vontade naquela hora. No começo, até saiu um pouco, mas ficou faltando uma quantidade para completar o tubo que foi difícil de sair.
E em Santo Domingo? Aconteceu alguma coisa engraçada?
Esse Pan tem uma coisa diferente de todos os outros: é a equipe mais divertida de todas, especialmente por causa do Bruno (Anjos, medalha de prata no torneio de duplas ao lado de Gustavo Tsuboi). A molecada é mais solta, mais alegre. Como eu sou o mais velho, eles vivem aprontando comigo. (Nesse momento, Bruno interrompeu a entrevista para entregar um presente ao amigo. “Tomaí, você precisa relaxar e aliviar um pouco a tensão”, disse o mesa-tenista, entregando um pacote com três camisinhas).
O que passava por sua cabeça no momento em que subiu ao pódio e recebeu mais uma medalha de ouro?
Pensava em todas as pessoas que me ajudaram ao longo da carreira, principalmente os meus pais (Kendi e Regina). Foram eles que me incentivaram desde o começo, bancaram minha carreira e possibilitaram que eu conquistasse tudo o que consegui. Devo tudo a eles, espero que estejam orgulhosos.
Em quem você se espelhou para seguir carreira em um esporte com tão pouco espaço no Brasil como o tênis de mesa?
Dentro do tênis de mesa, nunca tive ídolos. Mas uma pessoa muito especial para mim é o Maurício Kobayashi, que é meu técnico desde que eu tenho sete anos de idade. A gente se separou algumas vezes ao longo da minha carreira, mas nunca teria conseguido nada sem a força dele. Fora do tênis de mesa, sempre admirei muito o Zico e o Nélson Piquet.
Quais são seus planos para o futuro? Já apareceu o herdeiro que vai seguir a tradição do tênis de mesa brasileiro?
Eu pretendo continuar jogando pelo menos até Atenas, depois disso eu não sei o que vai acontecer. O Thiago, o Bruno, o Gustavo e também o Cazuo Matsumoto, que não veio para o Pan, vêm conseguindo bons resultados em competições internacionais. Acho que já provaram ser bons jogadores, com condições de vencer na carreira. Não gosto de falar essa coisa de herdeiro porque não posso ter um preferido, tenho que dar força para todos eles.
Com oito medalhas de ouro pan-americanas no bolso, você acha que tem seu valor devidamente reconhecido?
Não tenho o que reclamar do reconhecimento do público, que sempre me respeitou e tratou com muito carinho. Mas acho que ainda falta alguma coisa da parte dos empresários, patrocinadores, que não levam a sério o tênis de mesa. Precisamos de mais ajuda deles, pois se não sairmos do Brasil para competir, não podemos evoluir.