Fonte: UOL
Por: Mariana Bastos e colaboração de Lello Lopes
Como se já não bastasse o domínio chinês nas mesas olímpicas, o país que conquistou 13 dos 16 ouros em disputa desde Seul-1988 ainda distribui seus atletas por outras seleções. No total, serão 23 chineses, sendo que 17 vestindo a camisa de outros países. Menos pelo Brasil. O presidente da CBTM, Alaor Azevedo, é contra a idéia de “importar” atletas. “Formar atletas é o caminho mais difícil e mais demorado, mas os resultados são mais fortes e permanentes”, sentencia.
Não concordam com ele os dirigentes da Argentina, Canadá, República Dominicana, EUA, Espanha, Itália, Nova Zelândia e Áustria.
“Não sou a favor da naturalização. Isso descaracteriza a competição e também compromete a representatividade dos países. O torneio acaba virando uma espécie de campeonato chinês”, opina Hugo Hanashiro, mesa-tenista brasileiro que já foi derrotado por Chen Weixing, chinês naturalizado austríaco, no Aberto dos EUA.
Um dos casos de naturalização que provocou maior polêmica foi o que ocorreu às vésperas do Pan de Santo Domingo, em 2003. Duas semanas antes da competição, o presidente dominicano, Hipólito Mejia, que também é patrono do tênis de mesa na ilha caribenha, promoveu a naturalização de Lin Ju e Wu Xue, dois mesa-tenistas chineses.
“Eu acho uma sacanagem. O atleta da República Dominicana chegou da China pouco tempo antes do Pan. Quando tocavam o hino de lá, ele nem abria a boca. Ele levantava a bandeira dominicana ao contrário”, reclama Mariany Nonaka, que, no Pan de 2003, perdeu para a “dominicana” Wu Xue.
Lin Ju eliminou o brasileiro Hugo Hoyama na semifinal da competição e posteriormente conquistou o ouro. Já na final feminina do Pan, houve uma disputa entre naturalizadas. A “ianque” Chang Jun Gao levou a melhor sobre a “anfitriã” Wu Xue.
Desde então, a ULTM (União Latino-Americana de Tênis de Mesa) tenta barrar esse importação “made in China”. A entidade pretende levar sugestões para a ITTF (Federação Internacional de Tênis de Mesa) para tentar solucionar essa questão.
“O problema está na legislação olímpica que permite jogadores naturalizados. Até o presidente da ITTF (Adham Sharara) é um egípcio naturalizado canadense”, ironiza Francisco Camargo, membro do conselho de treinadores da ULTM e coordenador geral da seleção brasileira.
O lado positivo
Apesar de todas as críticas, alguns consideram que a diáspora chinesa favorece o aumento de competitividade nos torneios. “O lado bom é, se mais chineses forem naturalizados, o nível dos torneios por aqui vai aumentar. A gente vai ter que treinar mais para conquistar qualquer título por aqui”, avalia Nonaka, a caçula da seleção brasileira.
A opinião brasileira é mais branda quando os chineses residem durante um bom tempo no país adotado.
É o caso, por exemplo, de He Zhiwen. O jogador chegou à Espanha em 1990 e solicitou a nacionalidade local em 1996. Somente em 2002 assegurou a naturalização. Juanito, apelido dado pelos espanhóis, tornou-se o primeiro “espanhol” a conquistar uma vaga olímpica, sem levar em conta a Barcelona-1992.
Tan Monfardini Wenling é a chinesa, claro, na equipe italiana. Ela até se casou com um italiano para se aclimatar ao mar Mediterrâneo.
Na Nova Zelândia, a estrela é Li Chunli, 42, em sua quarta Olimpíada defendendo o país da Oceania. “Se o chinês morar no país, aprender o idioma e contribuir para a evolução da modalidade, não há como ser contra”, ressalva Camargo.
No Brasil, existem jogadores chineses que disputam campeonatos nacionais e são naturalizados. Nenhum deles, entretanto, chegou à seleção.
O chinês que mais se aproximou da seleção foi, na verdade, um treinador. Wei JeanRen treina atualmente Lígia Silva e Mariany Nonaka, as brasileiras que defenderão o Brasil em Atenas.
Desde que iniciou seu trabalho junto à seleção, JeanRen ajudou o país a conquistar muitos títulos, entre eles, 11 medalhas de ouro em Jogos Pan-Americanos. O técnico já está no Brasil há 25 anos e sua naturalização é vista de modo positivo pelos atletas. “A naturalização de técnico é diferente. Com os treinadores, adquire-se conhecimento técnico”, comenta Hanashiro, que disputará o torneio de duplas com Hugo Hoyama em Atenas.
Quebra de Hegemonia?
É muito alta a probabilidade dos ouros olímpicos irem para as mãos chinesas. No momento, os três melhores do ranking, tanto no masculino, quanto no feminino são chineses.
Atualmente, a China possui 10 milhões de praticantes de tênis de mesa. Entre os esportes praticados, é o segundo em popularidade, perdendo somente para o futebol -o líder comunista Mao Tse-Tung promoveu uma massificação do esporte de espaço reduzido, ideal para o país mais populoso do mundo.
Com a progressiva abertura econômica do país, muitos atletas partiram para outros países, em busca de melhores salários.
“A tendência é que a China diminua o poderio. Com a proximidade de Pequim-2008, existe a popularização de outros esportes e não somente do tênis de mesa. Com isso, pode haver uma pulverização de praticantes entre vários esportes e diminua o número de mesa-tenistas no país”, constata Camargo.